Consciência da sombra a coragem de se assumir
"Prefiro ser íntegro, a ser bom"
C. G. Jung
Medite no que mais lhe incomoda nas pessoas. Não aspectos superficiais, mas algo que realmente você abomine, ou até odeie. Talvez seja ingratidão, traição, injustiça, ciúmes, medo ou impaciência.
Reflicta:Você já pensou porque odeia isso?
Agora, espero muita coragem de você.
Será que o que te incomoda nos outros não é algo que está aí escondido dentro de ti?
Talvez tão escondido que agora faça parte do teu inconsciente?
Jung dizia: "Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a um conhecimento de nós mesmos".
Vamos mais fundo nesta questão:Toda criança é total ao nascer. É inteira, mas no decorrer de sua vida começa a se dividir. Ela é influenciada pela sociedade, religião e família, começando a negar algumas características consideradas más. É o jogo do que é bom ou mau. Assim com a chegada da maturidade ela já negou muito da sua personalidade real. Ela esconde uma parte de si, acha pecado, errado e sujo algo que é dela, e tudo o que é rejeitado fica escondido, ou guardado no inconsciente e isso chama-se sombra, é tudo o que negamos na busca absurda de sermos perfeitos, com um eu ideal.
Um exemplo é a história do médico e o monstro, Dr. Jekill e Mr. Hyde.
Claro que devemos guardar das pessoas que nos relacionamos um pouco das nossas sombras, senão criamos confusões todo o tempo.
O que não podemos é negá-la de nós mesmos, até porque ela contém aspectos que são muito legais.
Todos nós temos uma máscara que é aquilo que passamos para o mundo. É como as pessoas irão te ver, é o teu impulso, a tua personalidade adquirida com a vida, nós passamos aquilo que temos de melhor.
Chama-se persona na psicologia e é como gostaríamos que todos nos reconhecessem.
Exemplo: No namoro superficial colocamos nossa persona, e num relacionamento mais profundo acabamos por mostrar nossa sombra.
Fazemos nosso eu se dividir em três partes:
O 'Eu perdido" - tudo o que reprimirmos para agradar "os outros".
O "Falso Eu" - a imagem que criamos para agradar "os outros".
O "Eu negado" - as partes que "os outros" ensinaram que são negativas e que são negadas.
São exemplos: egoísmo, raiva, desejos sexuais (reprimidos), vingança, "erros do passado", culpa (que não cria nada), traição, falsidade, desejo de poder, segredos da alma, mentiras, as nossas brigas com Deus/Deusa, "pecados", vergonha, etc.
É provável que você tenha a maioria dessas características e outras mais. E não é só você.
Todos são assim. Reconheça isso.
Jung sabia que a sombra é perigosa quando não reconhecida, pois projectamos nossos aspectos destrutivos no mundo e "nos outros" e somos inteiramente escravos da sombra até que a mesma domine nossa vida e somente "pulsemos" ódio, tristeza, julgamentos, dor, reclamações, etc.
Começamos a ver defeitos em todas as pessoas, julgarmos e enxergamos a sombra do nosso vizinho, de religião que não seja a nossa, de outra cultura, mas não vemos a nossa sombra. Muitas das "guerras" espirituais ou religiosas acontecem exactamente por isso. Vemos trevas em tudo e essas trevas são projecções das trevas que temos dentro de nós.
Actos impulsivos que depois geram arrependimento. Situações onde se humilham os outros. Raiva exagerada em relação aos erros alheios. Depressão quando se olha para dentro.
Francisco de Assis era sombra e luz, mas escolheu o caminho de luz, Hitler era sombra e luz, mas escolheu o caminho da sombra. Hitler tinha a semente de Francisco, mas Hitler se tornou um Hitler e Francisco, tinha a semente de Hitler, mas se tornou um Francisco. Francisco trabalhou sua sombra, olhou para dentro e tornou-se um mestre que é ícone de compaixão, tolerância e amor à vida.
E isso é um trabalho para toda a vida que como recompensa nos permite perdoar aos outros e a nós mesmos pelo que achamos "mau" pois a compaixão e tolerância inicia-se connosco e expande-se aos próximos.
A sombra é muito primitiva. Vem de um passado remoto, desde talvez o surgimento dos hominídeos. Está, em nossa mente e coração é chamada também de memés. No livro "O Gene Egoísta", Richard Dawkins estuda que os memés são transmitidos pela cultura, fofoca, religião, livros, filmes e tudo que contribui para aumentar nossa sombra individual e cultural. A fofoca seria talvez o pior dos memés - o pior factor humano, a fofoca de dentro, a fofoca de fora.
Muitos pais se projectam nos filhos exigindo aspectos de perfeição que eles mesmos não tiveram na vida.
Pessoas ficam trabalhando com o chamado pensamento positivo. Mentalizando: "isso é positivo, isso é positivo", "isso é positivo eu sou luz", "eu sou luz", "eu sou luz". Trabalhar assim com a mente, pode ser benéfico, mas por um período pequeno de tempo. Ficar achando que tudo é positivo pode fazer com que neguemos a nossa própria sombra e os aspectos egoístas e perversos.
Os que não tem essas válvulas de escape que muito se manifestam no bom humor, tem a sombra reprimida e isso gera: sentimentos exagerados de posse em relação aos outros.
Alguns espiritualistas teóricos e religiosos intolerantes tem um "discurso" cheio de palavras lindas como amor incondicional, fraternidade, mas só tem o discurso na teoria. Não amam nem uma pessoa quanto mais a todos, incondicionalmente. Escondem a pior de todas as sombras - o fanatismo religioso, a intolerância com teus companheiros de crenças diferentes.
O filme francês "8º dia", conta a vida de um motivador de comportamentos positivos em empresas e congressos, que durante seu trabalho só fala palavras bonitas mas, ao ficar em contacto consigo próprio, encontra um universo de situações vazias de negativismo e dor.
Conheço motivadores e religiosos que não se auto-investigam e inconscientemente tentam passar aspectos legais na vida de seus alunos, mas suas palavras são agressivas, duras e inflexíveis, nota-se gestos, atitudes treinadas, decoradas, nada espontâneo ou que venha do coração. Seu suposto sucesso se dá porque seu público é formado por pessoas que gostam da dor e da humilhação.
Nossas luzes e sombras criam contradições e paradoxos em nossa alma. Qual caminho seguir? O que eu quero, ou o que "os outros" querem de mim?
Otavio Leal
encontrei este texto em " a dinâmica do invisível"
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