segunda-feira, 12 de abril de 2010

Khalil Gibran ... tudo o que eu dissesse sobre ele seria limitado...



Depois um operário disse-lhe,
Fala-nos do Trabalho.
E ele respondeu, dizendo:

Vós trabalhais para poder manter a paz com a terra e a alma da terra.
Pois ser ocioso é tornar-se estranho às estações e ficar afastado da procissão da vida que marcha majestosamente e com orgulhosa submissão em direcção ao infinito.

Quando trabalhais sois uma flauta através da qual o sussurro das horas se transforma em música.

Qual de vós quereria ser uma cana muda e silenciosa, quando tudo o resto canta em uníssono?
Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição e o labor um infortúnio.

Mas eu digo-vos que quando trabalhais estais a preencher um dos sonhos mais importantes da terra, que vos foi destinado quando esse sonho nasceu, e quando vos ligais ao trabalho estais verdadeiramente a amar a vida, e amar avida através do trabalho é ter intimidade com o segredo mais secreto da vida.

Mas se na dor chamais ao nascimento uma provação e à manutenção da carne uma maldição gravada na vossa fronte, então digo-vos que nada, excepto o suor na vossa fronte, apagará aquilo que está escrito.

Também vos foi dito que a vida é escuridão, e no vosso cansaço fazeis-vos eco de tudo o que os cansados vos disseram.

E eu digo que a vida é mesmo escuridão excepto quando existe necessidade,

E toda a necessidade é cega excepto quando existe sabedoria.

E toda a sabedoria é vã excepto quando existe trabalho,

E todo o trabalho é vazio excepto se houver amor;

E quando trabalhais com amor estais a ligar-vos a vós mesmos, e uns aos outros, e a Deus.

E o que é trabalhar com amor?

É tecer o pano com fios arrancados do vosso coração, como se os vossos bem amados fossem usar esse pano.
É construir uma casa com afecto, como se os vossos bem amados fossem viver nessa casa.

É semear sementes com ternura e fazer a colheita com alegria, como se os vossos bem amados fossem comer a fruta.
É dar a todas as coisas um sopro do vosso espírito, e saber que todos os abençoados defuntos estão à vossa volta a observar-vos.
Muitas vezes vos ouvi dizer, como se estivésseis a falar durante o sono,

"Aquele que trabalha o mármore e encontra na pedra a forma da sua própria alma é mais nobre do que aquele que trabalha a terra.

E aquele que agarra o arco-íris para o colocar numa tela à semelhança do homem, é mais do que aquele que faz as sandálias para os nossos pés."

Mas eu digo, não no sono, mas no despertar, que o vento não fala mais docemente com o carvalho gigante do que que com a mais ínfima erva;

E é grande aquele que, sozinho, transforma a voz do vento numa canção tornada doce pelo seu amor.

O trabalho é o amor tornado visível.

E se não sabeis trabalhar com amor mas com desagrado, é melhor deixardes o trabalho e sentar-vos à porta do templo a pedir esmola àqueles que trabalham com alegria.

Pois se fizerdes o pão com indiferença, estareis a fazer um pão tão amargo que só saciará metade da fome.

E se esmagardes as uvas de má vontade, essa má vontade contaminará o vinho com veneno.

E se cantardes como anjos mas não apreciardes os cânticos, estareis a ensurdecedor os ouvidos do homem às vozes do dia e às vozes da noite.




2 comentários:

  1. Existe mais sabedoria neste texto do que em muitos livros. Muito obrigado por você existir e manter este blog. Esta é a primeira vez que o visito. Voltarei outras vezes.

    ResponderEliminar
  2. Obrigada pelo seu comentário ernesto!
    é muito bem vindo!

    ResponderEliminar