Às vezes há tantas coisas por dizer, que não sabemos o que deve ser dito ou feito em primeiro lugar.
Outras, há um esvaziamento, onde parece que tudo que tem importância já foi dito ou feito – o que parece não ter resolvido nada ou quase nada.
Todo mundo, passa por essas fases na vida; embora poucos as reconheçam como ciclos naturais de ser e de estar, que nos impulsionam a buscar uma maior plenitude de vida.
Foi num momento desses, de desimportância e mesmice, que cruzei com as ideias de um filósofo moderno chamado David Spangler.
Ele fala das diferentes necessidades humanas como uma variedade de fomes, algumas das quais são fomes de significado superiores, de totalidade e de identidade entre homem e natureza.
Desconfio que algumas músicas populares são inspiradas nessa mesma percepção.
Diz ele: _ “O primeiro nível de fome é biológico.
A necessidade chave aqui é sobreviver enquanto entidade física.
A fome pode ser de sustento, de comida, de abrigo, de protecção contra doenças – de qualquer coisa que nos permita funcionar bem enquanto organismos biológicos, físicos”.
Hoje em dia a grande maioria das pessoas está confinada nesse nível e tudo que pensam, falam ou fazem destina-se a essa subsistência – quer por real necessidade, quer por comodidade , preguiça, ou ignorância.
Em geral, vem tudo junto, no mesmo pacote, formando um circulo vicioso que nos mantém atrelados a esse único nível de subsistência.
O segundo nível de fome é emocional.
A necessidade-chave aqui é de criatividade, identidade significativa.
A fome neste nível é de apoio emocional, de amor, de relacionamento, de afirmação, de sentido de poder e de estima; é fome de tudo que afirma e identifica as pessoas como seres humanos sensíveis e emotivos.
Todos sentem essa fome e buscam esse alimento, mas poucos reconhecem a qualidade do que ingerem, o que ocasiona depois a dificuldade da digestão e cuja nutrição é duvidosa.
As pessoas se alimentam de crenças com prazo de validade vencido, ou deixam-se dominar pelos desejos e sentimentos egoícos, que correspondem ao primeiro estágio do desenvolvimento humano.
Esquecem de crescer e amadurecer.
O terceiro nível de fome é mental.
Consciência é como se resume esta necessidade básica.
É a fome de conhecimento, de compreensão, de intuição, de sabedoria, de habilidades de pensar, de capacidade de discriminação, de tudo que nos ajuda a nos posicionarmos de modo adequado e correto. Aqui então, o cardápio é bem mais raro e caro!
Precisa um certo empenho e esforço da personalidade e do ser para buscar essas iguarias, que não se vendem em fast food.
Quase sempre, pessoas bem nutridas nesse nível são vistas como diferentes, esquisitas, excêntricas – justamente porque não engolem qualquer coisa.
O quarto nível é espiritual e a necessidade é de plenitude.
Aqui a fome é de transcendência, de integração, de síntese, de comunidade, de comunicação, de comunhão, de divindade, de religar-se com o Sagrado.
A fome, neste caso, começa a ultrapassar as necessidades pessoais, tornando-se fome de bem-estar para os outros, para a sociedade, para o mundo.
Cada nível afecta os outros, tanto que qualquer solução para terminar com a “fome sobre a Terra é preciso abranger os quatro níveis.
Basicamente, nenhuma fome pode ser satisfeita às custas das outras.”, esclarece o filósofo. Parece complexo, né?
E é!
Principalmente porque trata-se de necessidades humanas básicas que temos, e que nem atinamos com elas.
E´ por isso que tanta gente anda se nutrindo de álcool, fumo, drogas, remédios, relacionamentos doentios, empregos insatisfatórios, violência doméstica, e desencanto com a vida.
Tentam saciar a fome visceral de existir, que só se preenche quando cuidamos do nosso ser nas suas diferentes dimensões apontadas pelo filósofo: biológico, emocional, mental e espiritual.
E isso pressupõe o milenar mandamento que nos ensina a amar ao próximo como a nós mesmos.
Na próxima refeição, preste atenção: você tem fome de que?
Teresa Cristina F. Bongiovanni (algures da net)
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